O sistema de comunicação interna do Banco do Brasil, também conhecido como intranet Corporativa, publicou, na terça-feira (18), um texto intitulado “Empatia e proximidade” usando uma foto de produtores rurais fazendo o sinal de arma com as mãos para ilustrar o texto da entrevista com uma gerente de uma das unidades Estilo Agro. O gesto se tornou marca do presidente Jair Bolsonaro.
Em menos de duas horas e após comentários de bancários denunciando a possível apologia à violência e propaganda política, a imagem da matéria foi alterada.
“Lamentável! Entre tantas imagens de produtor rural, do campo, dos meios de produção, escolheu-se uma imagem que instiga violência (simulando uso de armas)”, escreveu um funcionário. “Esse tipo de coisa é totalmente contra a vida e o objetivo do Banco de valorizar a vida e as pessoas. Fazer arminha é privilegiar uma cultura de morte e violência”, destacou outro bancário.
Marca política
Em artigo onde analisou os procedimentos midiáticos de Jair Bolsonaro, a mestre em Comunicação e Informação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Gabriela Dávila, escreveu sobre o uso das mãos para simbolizar armas: “Tal gesto virou uma singularidade durante a campanha de Bolsonaro, sendo sua marca registrada até como presidente eleito, tendo em vista sua promessa de campanha da liberação do uso de armas para todos os cidadãos”.
O diretor de arte da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Alexandre Rolim, explicou que não se deve desprezar o impacto dos símbolos:
“Nosso cérebro, naturalmente, faz o arquivamento dos elementos que recebe de todos os sentidos do corpo. Os sonhos, por exemplo, são maneiras de lidar com a quantidade de informações que vamos arquivando ao longo do dia. Então, o que tem de grave na popularização do gesto de arma com as mãos? Primeiro, o fato de a arma, em si, ser um objeto que remete muito mais à violência do que à própria segurança. O segundo agravante é o fato de o próprio chefe de Estado ter como símbolo a arma. Isso pode contribuir para a naturalização mental do uso da violência e da coação como saída para resolução de problemas”, completou.
Alexandre, que também é doutorando em Comunicação e Semiótica (ciência que estuda como o indivíduo atribui significado a tudo o que está ao seu redor), pela Escola de Comunicação da USP, observa que a propagação do sinal da arma pode também prejudicar a imagem que os trabalhadores constroem em relação ao Banco do Brasil, em termos de valores e missão. “O que a empresa quer dizer com isso? Ela apoia a violência? Ela apoia a violência no campo? Que mensagem subliminar pode acabar sendo induzida entre seus funcionários?”, questionou.
Para o coordenador da Comissão de Empresa dos Funcionários do Banco do Brasil (CEBB), João Fukunaga, a escolha da imagem que remete ao bolsonarismo é preocupante, sobretudo após recente denúncia de trabalhadores que foram solicitados, pelos superiores, a usar camisas de cor amarela durante as atividades do MPE Week e coagidos a postar fotos com a vestimenta em seus próprios perfis nas redes sociais, algo inédito desde que o evento voltado às micro e pequenas empresas foi criado, em 2018.
“Estamos vendo agora, nos noticiários, o registro do Ministério Público do Trabalho sobre o aumento de 58% das denúncias de assédio eleitoral. Ou seja, de empregadores exigindo dos funcionários o voto em determinado candidato, sob ameaça de demissão”, destacou. “Então, nossa avaliação é que essas atitudes da direção e da comunicação do banco acabem resvalando para a promoção do assédio”, concluiu.