O ex-ministro da Fazenda nos governos Lula e Dilma, Guido Mantega, fez uma apresentação sobre a destruição do país e dos bancos públicos como estratégia de governo neoliberal e traçou os objetivos que devem ser seguidos para “reconstruir o Brasil que a gente quer”, na mesa que debateu “O papel do Banco do Brasil na reconstrução do Brasil que a gente quer”, realizada nesta quinta-feira (9) durante 33º Congresso Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil.
“Nós podemos afirmar que o Bolsonaro foi muito competente em destruir o Brasil, em demolir esse estado desenvolvimentista, de bem-estar social que nós tínhamos criado. Eles introduziram uma nova estratégia de política econômica, o neoliberalismo, contra o desenvolvimentismo e o objetivo deles era justamente desmontar o estado.” Nessa estratégia encontra-se a intenção de privatizar bancos públicos, mudando radicalmente seu papel que é, acima do lucro, social. “Um banco público não é igual a um banco privado. O objetivo do banco privado é ter o lucro máximo, ele não está preocupado com a questão social. Já o banco público, tem que ter lucro e tem que ser eficiente, mas tem que ajudar a economia a crescer, a distribuir renda e tudo mais.”
Mantega apresentou dados como o desemprego, que desde a era Temer está acima de 10%. Segundo o ex-ministro, o PIB, na era Lula, crescia anualmente até 4%, enquanto que no governo Bolsonaro do início ao final não chegou a 3%. Hoje, o crescimento está, em média, em 0,5%, o que torna incapaz a geração de empregos. “Estamos caminhando para a estagflação” (estagnação do crescimento econômico acompanhada de inflação), declarou Guido.
Como alternativas para a reconstrução do país, o ex-ministro apresentou saídas que vão da desprivatização das estatais até socorrer pessoas que estão em situação crítica e tirá-las da situação de fome. “É igual ao que aconteceu em 2003, quando Lula criou, como urgência, o programa Fome Zero”, finalizou.
O debate da mesa seguiu com a participação do economista e ex-técnico do Dieese, Jorge Gouveia. Ele destacou que, se hoje estamos à beira da estagflação, como explicado por Guido Mantega, antes do golpe que culminou na ascensão de Michel Temer à Presidência e do atual governo, o país apresentava crescimento sustentável, e o papel dos bancos públicos, para obter a alavancagem naquele momento da economia foi fundamental.
“A carteira do Banco do Brasil somava, no final de 2015, R$ 719 bilhões. Desde então, caiu e só recuperou este patamar em setembro do ano passado. Esse dado exemplifica a diferença do papel que os bancos públicos tiveram nesses dois momentos”, destacou.
Em um trecho de sua apresentação, o economista ainda pontuou que “mesmo naqueles países em que os mercados de crédito e mercados acionários são desenvolvidos e aprofundados, não se reduz a necessidade de bancos e/ou estruturas e arranjos institucionais públicos especializados e direcionados ao financiamento de atividades e/ou setores que se deparam com restrições nos mercados privados”. Ele concluiu que os bancos públicos podem atuar para a reconstrução do país com aumento do acesso ao crédito, impulsionamento do desenvolvimento em várias áreas da economia real, incluindo obras públicas, setor em que o Brasil ainda apresenta muitas carências.
O debate da mesa terminou com a fala do ex-presidente Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região, João Vaccari Neto que focou sua palestra em cima do mote “O Banco do Brasil que nós queremos no brasil que nós queremos.”
Ele lembrou que durante todo o período dos dois governos de Fernando Henrique Cardoso (1994-2001) não houve nenhum reajuste salarial nos bancos públicos. “Foi um massacre dos funcionários”, e, segundo ele, isso foi determinante para o enfraquecimento do papel dessas entidades também para o desenvolvimento do país.
“Na época os bancos reconheciam apenas a Contec e não os sindicatos, quando era para negociar os direitos dos trabalhadores. Então, ao longo dos anos, tivemos que fazer um esforço enorme para retomar a autoridade dos sindicatos nas negociações”, explicou.
Ele conta que as primeiras grandes conquistas começaram no governo Lula: “Colocamos os bancos públicos participando da mesa de debates junto com os bancos privados. Também conquistamos espaço no tratamento dado aos pequenos clientes e proprietários, impedidos de entrar e obter crédito. Essas conquistas foram determinantes”, pontuou.
Vacari relembrou que, nos governos Lula, os movimentos sociais “entraram numa espiral de autoconfiança”. “Então, vieram as crises políticas de 2004, 2013, 2016 e, em seguida, a Lava Jato, iniciando a política de eliminação de empregos e a derrocada da indústria, tendo por trás a ação do governo norte-americano”, observou. “Encontramos registros que, desde 2013 meu telefone foi grampeado e eu fui preso em 2015. Eles queriam acabar com a política e a representatividade do governo”, disse. O resto da história, derrubada de Dilma, prisão de Lula e destruição de grandes empresas brasileiras, todos nós já conhecemos, ele lembrou.