O Banco do Brasil foi o único banco a colaborar com um estudo sobre a chamada “imunidade de rebanho”, que consiste em deixar que a população se infecte livremente para desenvolver resistência ao vírus de forma natural. Isso aconteceu por meio da joint venture UBS BB que, em maio de 2021, divulgou um relatório afirmando que o Brasil alcançaria a tal da imunidade de rebanho até outubro daquele ano e, dessa forma, os governos poderiam liberar o funcionamento de atividades que dependem de maior aglomeração social.
“Além de errar no resultado da análise, afinal o Brasil ainda enfrenta a pandemia, quando o UBS BB divulgou seu relatório, fazia sete meses que 80 pesquisadores de várias partes do mundo haviam publicado uma carta conjunta aberta dizendo que ‘a imunidade de rebanho é uma perigosa falácia sem respaldo científico’. No Reino Unido, também fazia cerca de um ano que o primeiro-ministro Boris Johnson havia desistido da ideia de deixar o vírus correr solto”, observou o coordenador da Comissão de Empresa dos Funcionários do Banco do Brasil (CEBB), João Fukunaga.
“Para além de patrocinar um estudo que serviu apenas para colaborar com as teorias defendidas pelo bolsonarismo, o presidente do BB, Fausto Ribeiro, também apresentou uma postura contrária à importância dos protocolos de segurança nas dependências do banco”, pontou Fukunaga lembrando que Fausto Ribeiro foi flagrado diversas vezes visitando agências sem utilizar máscaras de proteção. “E, mesmo diante das avaliações de órgãos de saúde de que o fim da pandemia não era uma perspectiva próxima, decidiu retirar do home office os funcionários com comorbidades e os que trabalham em departamentos de prédios comerciais que não fazem atendimento ao público”, completou.
Os sindicatos chegaram a obter uma liminar na Justiça do Trabalho, determinando a continuidade do home office, mas o BB recorreu e, com outra liminar, derrubou a medida que obrigava a empresa a adotar o modelo de trabalho remoto.
A direção do banco ainda decidiu, sem consultar os trabalhadores, divulgar um novo Manual de Trabalho, no início do ano, retirando o item que previa o fechamento das unidades que tivessem caso confirmado de funcionário contaminado nas últimas 72h.
“A pergunta que fica é: Agora que Olavo de Carvalho morreu de Covid-19, será que a direção do BB sairá do negacionismo e começará a cobrar que todos, sem distinção de cargos, usem máscaras de proteção e, além disso, permita que funcionários sejam alocados em home office?”, questionou Fukunaga, se referindo ao falecimento, no dia 24 de janeiro, do guru da família Bolsonaro, que diversas vezes negou a existência da pandemia e questionou a eficácia das vacinas.
Desmonte calculado
Uma reportagem de Geralda Doca, no jornal O Globo, publicada na última segunda-feira (24), confirma o que o movimento sindical já vem alertando ao destacar que, em menos de um ano no cargo, Fausto Ribeiro caiu nas graças de Bolsonaro.
Apesar de não mais falar abertamente em privatização, a política de desmonte do BB segue em andamento. Ribeiro concluiu o programa de reestruturação, iniciado na gestão anterior, de André Brandão, e que resultou no fechamento de 361 unidades. O banco ainda utilizou a reestruturação para manter salários rebaixados sem reduzir a responsabilidade de gerentes.
“Podemos resumir desta maneira a gestão atual do Banco do Brasil: fechamento de unidades, enxugamento no número de funcionárias e funcionárias e sobrecarga dos que ficam”, pontuou Fukunaga. “Além de tudo isso, registramos o aumento da contratação de terceirizados para fazer triagem nas filas da sala de autoatendimento, sem acesso aos mesmos equipamentos de proteção individual contra a Covid-19 que os trabalhadores concursados do banco possuem. Em suma, estamos assistindo ao desmonte do banco e o objetivo dessa precarização calculada para o futuro, nós já conhecemos: a privatização”, alertou o coordenador da CEBB.
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